Continuo pensando na educação do desejo, se é possível entender a vontade primitiva que nasce "do nada" e nos toma feito furacão. E é justamente nesse lugar fugidio e incessante, onde não tem espaço para a moral dos resentidos, é que habita, ou melhor, onde se pode ser afetado por alguma fagulha de felicidade instantanea. É ali que mora o transe. Filho do tempo que morre e do tempo que nasce.
Mas aqui procuro definir, e definir é desenhar, é decodificar, é entender. Não acredito que a definição limite o entendimento, o limite está na capacidade intelectual de cada um. Pois para se conhecer algo é necessário dar nome a coisa, por mais que exista uma subjetividade latente. Mas o primeiro passo é entender o que é visto pelos olhos, pelo que nos é apresentado. Por isso limita, é conclusivo, a palavra em si é conclusíva. Agora, querer entender o que está por trás das definições e das palavras não está no cotidiano social, infelizmente! E o que faço aqui é justamente tentar discutir o que está por trás das definições cotidianas.
O que é o amor? O amor não é idéia e nem volição, amor é desejo, sentimento; é algo carnal até no espírito e graças ao amor que podemos sentir tudo o que o espírito tem de carne.
O pensador espanhol Unamuno, fala que o amor está ligado no fundo há algo trágico e destrutivo, o amor é sem dúvida uma luta, cada um dos amantes procura possuir o outro e, procurando através dele, sua própria perpetuação, procura o seu gozo, sua saciedade vital e efêmera. Cada um dos amantes é para o outro um instrumento de gozo e, mediatamente, de perpetuação. Unamuno classifica os homens como tiranos e escravos, cada um deles tirano e escravo, ao mesmo tempo, do outro.
O que os amantes perpetuam na terra é a carne da dor, é a dor, é a morte. Há na profundidade do amor, uma profundidade de eterno desesperar-se, da qual brotam a esperança e o consolo, pois desse amor carnal e primitivo , desse amor de todo corpo com seus sentidos, que é a origem animal da sociedade humana, desse enamorado surge o amor espiritual e doloroso.
Pois é nesse ponto que entro como a minha questão sobre a angústia de estar vivo, a angústia da posse, da vontade de integração, de unificação em outro corpo, da incapacidade da união suprema dos corpos, da dor de ser só no mundo e, da tentativa desgastante de amar, para poder provar que está vivo, provar que se é.
Sartre em seu texto “O Existencialismo é um Humanismo” fala que o existencialismo não tem pejo em declarar que o homem é angústia, sendo o homem ligado por um compromisso. O homem que entende que ele não é apenas aquele que escolhe ser, mas de que é também um legislador pronto a escolher, ao mesmo tempo que a si próprio, a humanidade inteira, não poderia escapar ao sentimento da sua total e profunda responsabilidade. É na decisão que Sartre situa fundamentalmente a angústia, diante da pluralidade de possibilidades; e quando escolhem uma, dão conta de que ela só tem valor por ter sido escolhida. Esta espécie de angústia, é que descreve o existencialismo.
Por tanto "escolher" é na verdade um ato intelectivo, é uma opção entre duas ou mais pessoas ou coisas. E o que acontece hoje é uma mega liguidação de desejos e valores no saldão. A angustia de não saber escolher causa dor e sofrimento.
A dor é o caminho da consciência e é por ela que os seres vivos chegam a ter consciência de si, porque ter consciência de si, ter personalidade, é saber-se e sentir-se distinto dos demais seres, e só se chega a sentir essa distinção pelo choque, pela dor mais ou menos grande, pela sensação do próprio limite. A consciência de si nada mais é que a consciência de sua própria limitação.
O oposto da dor, o prazer, o gozo, ele nos leva pra longe de nós mesmos, Unamuno diz que quando alguém goza, ele esquece de si mesmo, de que existe, passa ao outro, ao alheio, se alheia. E só se ensimesma, e volta-se para si mesmo, somente pela dor.