quarta-feira, 26 de maio de 2010

Amor e desejo, somente hoje por preços imbatíveis! Garanta já o seu!


Continuo pensando na educação do desejo, se é possível entender a vontade primitiva que nasce "do nada" e nos toma feito furacão. E é justamente nesse lugar fugidio e incessante, onde não tem espaço para a moral dos resentidos, é que habita, ou melhor, onde se pode ser afetado por alguma fagulha de felicidade instantanea. É ali que mora o transe. Filho do tempo que morre e do tempo que nasce.

Mas aqui procuro definir, e definir é desenhar, é decodificar, é entender. Não acredito que a definição limite o entendimento, o limite está na capacidade intelectual de cada um. Pois para se conhecer algo é necessário dar nome a coisa, por mais que exista uma subjetividade latente. Mas o primeiro passo é entender o que é visto pelos olhos, pelo que nos é apresentado. Por isso limita,  é conclusivo, a palavra em si é conclusíva. Agora, querer entender o que está por trás das definições e das palavras não está no cotidiano social, infelizmente! E o que faço aqui é justamente tentar discutir o que está por trás das definições cotidianas.

O que é o amor? O amor não é idéia e nem volição, amor é desejo, sentimento; é algo carnal até no espírito e graças ao amor que podemos sentir tudo o que o espírito tem de carne.

O pensador espanhol Unamuno, fala que o amor está ligado no fundo há algo trágico e destrutivo, o amor é sem dúvida uma luta, cada um dos amantes procura possuir o outro e, procurando através dele, sua própria perpetuação, procura o seu gozo, sua saciedade vital e efêmera. Cada um dos amantes é para o outro um instrumento de gozo e, mediatamente, de perpetuação. Unamuno classifica os homens como tiranos e escravos, cada um deles tirano e escravo, ao mesmo tempo, do outro.


O que os amantes perpetuam na terra é a carne da dor, é a dor, é a morte. Há na profundidade do amor, uma profundidade de eterno desesperar-se, da qual brotam a esperança e o consolo, pois desse amor carnal e primitivo , desse amor de todo corpo com seus sentidos, que é a origem animal da sociedade humana, desse enamorado surge o amor espiritual e doloroso.

Pois é nesse ponto que entro como a minha questão sobre a angústia de estar vivo, a angústia da posse, da vontade de integração, de unificação em outro corpo, da incapacidade da união suprema dos corpos, da dor de ser só no mundo e, da tentativa desgastante de amar, para poder provar que está vivo, provar que se é.

Sartre em seu texto “O Existencialismo é um Humanismo” fala que o existencialismo não tem pejo em declarar que o homem é angústia, sendo o homem ligado por um compromisso. O homem que entende que ele não é apenas aquele que escolhe ser, mas de que é também um legislador pronto a escolher, ao mesmo tempo que a si próprio, a humanidade inteira, não poderia escapar ao sentimento da sua total e profunda responsabilidade. É na decisão que Sartre situa fundamentalmente a angústia, diante da pluralidade de possibilidades; e quando escolhem uma, dão conta de que ela só tem valor por ter sido escolhida. Esta espécie de angústia, é que descreve o existencialismo.

Por tanto "escolher" é na verdade um ato intelectivo, é uma opção entre duas ou mais pessoas ou coisas. E o que acontece hoje é uma mega liguidação de desejos e valores no saldão. A angustia de não saber escolher causa dor e sofrimento.

A dor é o caminho da consciência e é por ela que os seres vivos chegam a ter consciência de si, porque ter consciência de si, ter personalidade, é saber-se e sentir-se distinto dos demais seres, e só se chega a sentir essa distinção pelo choque, pela dor mais ou menos grande, pela sensação do próprio limite. A consciência de si nada mais é que a consciência de sua própria limitação.


O oposto da dor, o prazer, o gozo, ele nos leva pra longe de nós mesmos, Unamuno diz que quando alguém goza, ele esquece de si mesmo, de que existe, passa ao outro, ao alheio, se alheia. E só se ensimesma, e volta-se para si mesmo, somente pela dor.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

É possível domar ou educar as paixões?


Em tempos de "Vale tudo", e pensando sobre uma ética contemporânea, me lembrei de um texto de Immanuel Kant, filósofo alemão. Kant assegura que o homem, afetado por tantas inclinações, é na verdade capaz de conceber a idéia de uma razão pura prática, mas não é tão facilmente dotado da força necessária para tornar eficaz no seu comportamento. Isso porque a moralidade para os seres humanos é o resultado pretendido de um processo educacional extensivo uma vez que atrás da educação repousa o grande segredo da perfeição da raça humana. A própria moralidade, ao menos no que concerne aos seres humanos, pressupõe a educação.

A moralidade não pode simplesmente ser um produto causal da educação, mas ela pressupõe a educação, uma vez que por natureza o ser humano não é um ser moral absoluto. Kant completa dizendo que a disciplina transforma a animalidade em humanidade. Diz que “transformar” não significa “erradicar”, disciplinar significa procurar evitar que a animalidade cause danos à humanidade. Disciplina seria, portanto uma maneira de domar a selvageria e Kant chama isso de “cultura negativa” ou “libertar a vontade do despotismo dos desejos”.

E por fim Kant coloca a moralização como a formação do caráter humano e o primeiro esforço da cultura moral deve ser, lançar os fundamentos do caráter. Para Kant o caráter consiste no hábito de agir segundo certas máximas e estas máximas, em princípio, são as da escola e, mais tarde, as da humanidade. Kant acreditava na formação moral como fomentadora da confiabilidade entre os homens e o entendimento pleno do estudante sobre o agir por dever somente será possível com o passar dos anos e, assim, sua obediência, a cada dia, será aperfeiçoada.

E para formar um bom caráter, Kant diz que é preciso domar as paixões, sem as erradicar. Para aprender a se privar de determinadas coisas; é necessário coragem e uma certa inclinação. É preciso acostumar-se às recusas e à resistência. Mas nem só de abstinências se forma um caráter. Kant afirma que este é formado também na sociabilidade, o educando deve manter boas relações de amizade, uma vez que apenas um coração contente é capaz de encontrar prazer no bem, e a etapa suprema da educação é a consolidação do caráter que consiste na resolução firme de querer fazer algo e colocá-lo em prática. Portanto Kant conclui, que para os jovens a quem isso ainda não é possível, a educação é imprescindível para sua liberdade.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

As coisas imateriais não ocupam lugar.


É difícil entender a histeria contemporânea. Tudo aparenta ou realmente é uma propoganda de esporte radical. Todo mundo se jogando em penhascos, procurando um instante desenfreado de adrenalina vibrando dentro. Para alguns ou para muitos, é realmente difícil ficar sozinho consigo mesmo, às vezes a cia de si próprio torna-se muito desagradável.

O que você tem a dizer? Sobre você e a vida? Sobre o Xingu? Sobre o Himalaia? Sobre tudo? E pra quê dizer? Ou pra quem dizer? Dizer o quê? Informações informam que vai chover. Você está tranqüilo em somente "Ser" o que você é? Olhar disperso e nervoso não sabe onde pousar. Será medo? Ou será que no fim tudo vira plástico? Já que tudo é descartável!

A virtude não é mais o seu "Eu", ou melhor, nunca foi. Virtude é o que se pode ter, está no consumo cotidiano de Shoppings e prateleiras, nas vestimentas; nos corpos belos e estranhos. Que seja a virtude a verdade mais profunda de sua alma ou que seja o virtuosismo o reflexo maior do nada que reside dentro.

É isso então? Não tem explicação? O jeito é ir tentando achar o melhor caminho, ou o caminho do meio, ou o de volta, sendo que o de ida também pode ser uma volta em torno de si. Recomeço. Recomeçar a vida? É possível? A vida é só uma. E os caminhos, quantos são? Encontrar um que seja mais ou menos bom pra você, já ajuda muito!

Mesmo com seus tropeços e alegrias, e mesmo com todas as dores inevitáveis e as evitáveis também; poucos ou vários amores, pois estes são da ordem da sorte e do inesperado. Mas antes é preciso ter calma e aceitar o belo que se reapresenta todos os dias, e aceitar também o que há de terrível e implacável. Aceitar o desconhecido.